quarta-feira, 26 de maio de 2010

Domingo 23 de Maio

Domingo 23 de Maio

7h57 – O sol torna o meu quarto num pequeno stand do Inferno. Com a janela aberta o efeito é o mesmo. Leis mais um capítulo e lá consigo voltar a adormecer.

10h13 – Acordo novamente. Impossível continuar a assar desta maneira. Desço até ao jardim para escrever e apanhar um pouco de sol. Já sinto a falta da internet.

É então que começo a delirar! E me vem à cabeça a ideia de que devia aproveitar para lavar a casa de banho. Uma vontade incontrolável leva-me até à casa de banho e sem demoras começa a esfregar, a nausear, a sua e por pouco não chego a vomitar.

Não contente com a soberba experiência, sigo para a cozinha, lavo a louça toda que se encontrar para lavar. Esfrego a bancada, lavos os vidros, a torradeira, o microondas, o que é que se passa comigo?!? Não consigo parar. Para terminar ainda ponho a roupa a lavar. À tarde não sei o que me espera, mas ainda vou no 7º dia e já estou claramente com problemas psicológicos.

Sexta-feira, 21 de Maio

Sexta-feira, 21 de Maio

Neste momento são 7h da tarde e estou sentada no meu jardim. Programa para mais logo…uma ida a um pub e depois provavelmente mais uma capitulo da vida de Wilkinson.

Amanhã, sábado, vão estar 25 graus, que vos garanto, equivalem aos 35 graus portugueses. Ainda por cima não existe uma piscina,. Uma praia ou um rio simpático por aqui. Perspectivo horas difíceis. Mas mais que nunca não me arrependo de ter mandado vir as minhas roupas de verão para a ilha paradisíaca!

Sábado, 22 de Maio

Com o calor e com o fantástico sol que brilha no azul céu inglês, decidimos ir a Nottingham. Em tempos de Robin dos Bosques, nada mais apropriado.

Nottingham é uma cidade bem maior que Lufbra, onde se pode fazer compras e onde, imagine-se, há até uma Zara! Mas comecemos pelo início. Decidi tirar do armário o meu kit verão e assim fui de calções. As minhas pernas reflectiam o sol, de tão brancas que estavam. Tornando-se ambas numa poderosa arma para todos aqueles que se atravessassem no meu caminho!

Madrugámos e por isso às 10h da manhã já estávamos prontos para apanhar o autocarro. E não fossem alguns dos participantes da excursão terem problemas com o fuso horário inglês, teríamos, por certo, apanhado o autocarro das 10h. Por isso, lá esperámos mais meia hora para finalmente arrancar! A viagem é bastante agradável embora dure uma hora.

Nottingham fica a 11 milhas, mas de autocarro como passamos em todas as capelinhas, demora mais tempo. E por falar em capelinhas, em cada capela que passámos havia um casamento. Ainda pensámos em sair a meio da nossa jornada para participar na festa, mas facilmente seriamos notados. No caminho vimos vacas, campos de golfe, cavalos, e todo este caminho feito na fila da frente, do segundo andar, de um autocarro que tinha a mesma largura das estradas que íamos percorrendo.

Chegados à cidade do Xerife, na praça principal onde há uma fonte, dezenas de crianças tomavam banho entre repuxos e beatas. Alguns pais acompanhavam os rebentos como desculpa para entrar no banho público. O resto sentava-se à volta da praça, os homens sem t-shirt e as mulheres com roupa qb.

Decidimos fazer o mesmo, mantendo as roupas e evitando a límpida agua.

Depois de torrar durante uma boa meia hora ao sol, partimos à descoberta das inúmeras lojas. A primeira foi sem dúvida a pior – TKMAX. É um misto de feira de Carcavelos indoor misturada com o mais de foleiro que pode existir à face da terra – os sapatos provam-se – e com a particularidade de que tudo parece já ter sido usado!

A seguira a esta estafante loja, o estômago já apertava…mas o senhor Mcdonald, zeloso do nosso bem estar, convidou-nos para almoçar na sua humilde casa. Como lá fora o sol estava esplêndido, agradecemos ao senhor Mcdonald, mas pedimos para levar e mais uma vez a praça principal foi o lugar escolhido para torrar.

Depois de uma refeição gostosa e saudável, preparada cuidadosamente pelo senhor Mcdonald, que nunca nos desilude, decidimos que era altura de seguir os passos do Robin. Subimos até ao castelo (bastante recente por sinal), mas não entrámos – 5 libras explicam o porquê – e descansámos mais uma bocado num pedaço de relva que por lá encontramos.

Visitámos também o pub mais antigo de Inglaterra (1199) e descemos até ao rio, onde gente estranhíssima se amontoava nas margens em esplanadas com pints e copos de vinho na mão.

Mais umas compras e é então que Nina, uma estagiária alemã, se vê ao espelho. Algo estranho tinha acontecido, e Nina agora tinha tons de lagostim. O sol da ilha tinha tido efeito na pele de Nina. Ri-me secretamente…mas mais tarde quando também eu me mirei ao espelho, e me vi escaldada, rejubilei! Ainda há esperança de poder vir a ganhar cor neste país de gente esquálida.

Passeamos mais uma bocado – sempre pela sombra, não fosse Nina ganhar queimaduras de 3º grau. Mas era dia de final de Liga dos Campeões e o pub e Mourinho esperavam por nós.

Em casa não tive tempo para descansar e por isso neste sábado até me dei bem com a falta de internet….há coisas piores na vida, certamente.

2 semanas sem internet



Quarta-feira

9h35 – Saio de casa para ir mais cedo para o escritório para tentar ir à internet. Infelizmente tal não acontece devido ao tráfego de lugares no escritório – para quem não sabe todos os dias jogamos ao jogo das cadeiras, e por isso, todos os dias temos um lugar novo para nos sentarmos.

18h – Sigo para casa com a esperança de ter a ligação à internet reestabelecida. Nada mais mentira!

18h38 – Saio de casa para ver um jogo de rugby da selecção inglesa de sub 20, que veio à cidade jogar com a equipa da universidade de Loughborough. O jogo acaba mais cedo porque as luzes vão abaixo – estou com azar às tecnologias. Como não havia certezas de que em casa a internet já estaria a bombar, decido ir ao McDonalds, porque – passo a explicar – o Mcdonalds tem internet grátis!

22h00 – Chego a casa ansiosa pela internet…NADA! Leio um capítulo da biografia do Johny Wilkinson e depressa caio para o lado.

8h30 – O despertadora toca, sem hesitações ligo o computador…É agora…NADA! Lá vou eu mais cedo para o escritório, mas desta vez já com a certeza de que um computador estaria ligado à minha espera.

18h10 – Entro no meu lar de novo esperançada…Mas rapidamente desço do céu ao inferno…quando o Daniel me explica que não irá haver internet DURANTE DUAS SEMANAS.

Ao que parece a Virgin (a tvcabo cá do sitio) diz que a Agência Imobiliária (que está encarregue de pagar as contas) não paga há uns tempos. A Agência diz que pagou e, por isso, porque não trabalha com caloteiros (cof, cof) vai mudar de rede…que se lixa é o Zé Povinho. 2 Semanas janela para o mundo, sem Farmville, sem sites de gossips, sem fóruns de futebol, sem blogs, sem facebook, enfim…de volta aos anos 90!

Daí que a partir de agora resta-me fazer o meu blog através de um bloco de papel. Com a esperança de que um dia mais tarde possa digitalizar as minhas memórias sobre esta nova etapa na minha vida.

Para agravar mais a minha situação aproxima-se o fim de semana e é fim do mês!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Desta vez fiz de Meryl!

A pedido de muitas famílias, inclusive da minha, venho escrever mais um testemunho de uma incrível aventura passada aqui em terras de Loughborough.



Obviamente que esta foto não é do bolo em questão, mas sim da minha primeira experiência com esta receita - se tivesse tão requintado prato, certamente também teria uma batedeira...

Os ingleses têm o hábito de fazer inúmeros eventos para angariar dinheiro para caridade. Para além disso, em cada esquina há uma loja de caridade, que vende produtos em segunda-mão - o que é bastante bom para comprar livros e jogos de mesa.


Por isso, na semana passada, uma das "consultoras linguísticas" (tradução = vendedora de cursos de línguas) resolveu fazer uma venda de bolos no escritório, para angariar fundos para a pesquisa da cura para o cancro.


O objectivo era que as pessoas levassem bolos, e depois os comessem e pagassem por eles.


Eu queria fazer boa figura, e então lembrei-me da minha última especialidade, um pão-de-ló recheado com chantilly e morangos - ao mais belo estilo do Fruta Almeidas.


Procurei a receita na internet, de um pão-de-ló básico, e pensei, "o chantilly e os morangos não tem nada que saber".


Domingo à noite, desço até à cozinha para dar uma de pasteleiro...só que não sabia que ia ser uma pasteleira dos anos 30! Não sei se já viram o filme Julie and Julia? Pois, à quem diga que este blog tem receitas ao estilo da Julie...pois eu desta vez fui a própria Julia. E perguntam porquê?


Básico...eu é que não me lembrei antes...uma casa de estudantes, não tem, obviamente, uma batedeira.


E quem é que faz um pão-de-ló sem uma batedeira? Só alguém muito teimoso e persistente. Modéstia à parte, acho que me qualifico bem para o papel.


Comecei então o meu regresso ao passado. 8 ovos e 200 gr de açucar (felizmente havia uma pequena balança), bater muito bem. Pensei inúmeras vezes na minha Avó Gena em África a cozinhar...e pensei, se a minha Avó conseguia, eu também hei-de ter braço para isso - afinal, 8 anos de passes com uma bola de rugby haviam de valer alguma coisa.


E de facto, bater os 8 ovos com os 200 gr. de açucar nem me pareceu muito mal. Depois, a receita dizia, envolver a farinha (200 gr.) peneirada, "MAS SEM BATER, apenas envolver". Mas como eu saio ao meu pai, pensei para mim...no fimm isto tem é de estar tudo misturado, não vou cá ligar a mariquices. E toca de bater a farinha com os ovos e o açucar. Voilá...ficou com aspecto de massa de bolo.


Untei - esta palavra dá-me sempre vontade de rir...faz-me lembrar uma "bestunta", que segundo o meu pai é uma Besta Untada - a forma...infelizmente tinha-me enganado e comprado banha em vez de margarina...mas a diferença também não deve ser muita, pensei eu. E deitei 3/4s da massa na forma.


E forno com ela.


30/40 min...não deixar cozer muito, para ficar com o meio enqueijado. E a base do bolo estava feita. Faço mais outra metade da receita, para a "tampa" do bolo. 4 ovos, açucar, bate um bocadinho. Farinha, bate mais um bocadinho...unta a forma, e forno com ela.


Era então tempo de começar o chantilly. Ora bem, se a massa resultou, as natas não devem ter uma dificuldade muito maior. Pois que se engane quem pensa assim. Para mim, o chantilly só pode ser uma invenção recentíssima, aí dos anos 30 ou 40, ou mesmo 50!!!


Primeiro coloquei as natas - sim eram natas frescas, e estavam no frigorífico - numa taça, e então comecei a bater. A consistência começou a mudar e eu comecei a sentir-me poderosíssima! Só que não sabia que a mesma consistência iria durar por mais uma hora...Juntei o açúcar e continuei a bater. Braço direito, braço esquerdo, sentada, em pé, sentido do relógio, sentido inverso, no facebook...enfim mais de 1hora e nada!


Penso então em quem me poderia ajudar...hmmm! Bingo, a minha Avó Gena! Liguei-lhe, já íamos nas 23h30, e contei-lhe o meu desespero. Deu-me então uma dica que acabaria por salvar o meu dia! Pôr as natas no congelador, 20 min. Não mais para não virar gelado.


E assim foi, pus as natas no congelador e esperei. Quando as tirei parecia chantilly acabado de sair de uma batedeira da Kenwood!! Sem mais demoras recheei o bolo com chantilly e morangos partidos à metade. E de uma maneira pouco ortodoxa, coloquei a "tampa" por cima. E voltei a rechear...mas o resto do chantilly começava a voltar à sua forma inicial...ou seja, sem forma, liquido!


Decidi então que me tinha que ir deitar. No dia a seguir acordaria mais cedo e faria o resto. Pus o bolo no frigorífico - no espaço, na minha prateleira, que eu tinha arranjado de propósito para o bolo, que estáva agora ocupado por um tuppwear com verduras holandesas, grrrr, que gentilmente acabei por as colocar em cima da banca - e fui-me deitar.


No dia a seguir, natas de novo para o congelador. Esperei novamente 20 min, e voilá! Chantilly! Cobri o resto do bolo, morangos por cima, novamente cortados à metade.


E foi então que comecei a pensar como é que levaria o bolo até ao escritório...a brincar a brincar ainda são 5 min a pé!! Mas já era tarde, e então lá sai eu com o meu bolo desnudo, rua fora!


Com chantilly feito à mão, sem batedeira para mexer a massa, a verdade é que, e novamente modéstia à parte, o meu bolo foi um sucesso.


No fim, e tendo em conta que cada fatia de bolo na venda dos bolos era a 0,50£, e que no escritório somos apenas 25, ao fim de dois dias, conseguimos juntar 60£!!

domingo, 9 de maio de 2010

Quarto novo, vida nova



Boas!

Peço humildes desculpas pela minha ausência, mas é que aqui no campo vivemos a mil. As actividades lúdicas sucedem-se a cada momento e as novidades surgem a cada minuto. Ela é festas de despedida, ela é festivais/feiras da universidade, ela é mudanças de quarto, ela é cicerone de holandesas...enfim, uma roda viva!

Mas apesar de todos estes acontecimentos, hoje apenas vos vou contar sobre as cenas do último episódio de "Dentro de um filme inglês" que foi para o ar há umas semanas atrás.

Depois da visita matinal dos bobbys cá a casa, muita água correu por estas bandas.

Se a polícia nos fez uma visita surpresa no domingo, na segunda-feira à noite - enquanto preparava uma aconchegante refeição - foi a vez dos pais lituanos nos baterem à porta.
Isso mesmo, "pais lituanos", o que é o mesmo que dizer "pais que não falavam inglês". Mas isso ainda foi o menos. O problema maior foi mesmo não saberem onde estava o filho.

Imaginem a cena, no meio da cozinha, a mãe com um bebé ao colo, desesperada por não saber onde estava o filho, o pai a mesma coisa. E eu e o inglês sem sabermos se devíamos ou não contar que o miúdo estava preso.
Até que começamos por dizer que a polícia tinha estado cá em casa...e quando demos por nós já tínhamos contado tudo. Mas de tudo o que contamos, os pais apenas perceberam que o filho estava preso.

Aproveitando-se da minha simpatia extrema e da minha experiência profissional como tradutora/interprete, os progenitores de leste resolveram ligar para alguém que também falava inglês, para que eu pudesse contar o que se tinha passado, para que depois pudesse ser traduzida para lituano.

Depois de muito falarem naquela estranha língua, recebo a mensagem final - o lituano tendo sido preso, não poderia voltar a trabalhar na Ryanair. Por isso, os pais iriam vê-lo à prisão e depois passariam cá por casa para levar as coisas dele.


No mesmo instante, deixei de ouvir os lituanos ou de pensar na prisão do outro, e passei a imaginar-me no meu novo quarto! - secretária, armário e espaço, muito espaço!!!

No dia seguinte, mandei uma mensagem ao responsável pela casa e contei-lhe o que tinha passado. Ele veio cá a casa, viu o estado em que estava a porta, e disse que os homens da manutenção viriam cá a casa arranjar a porta e assim que estivesse arranjada eu podia-me mudar. E o melhor de tudo, podia mudar para um quarto com o dobro do tamanho do meu e sem pagar nem mais uma libra por isso!

O tempo foi passando e todos os dias eu chegava excitadissima a casa, com a esperança de que seria naquele dia que poderia mudar de quarto. Mas nada. Os dias passavam e a porta continuava escancarada.

Ao mesmo tempo que eu pensava em mudar-me para o meu novo quarto, também fazia de agente imobiliária para uma holandesa estagiária que estava interessada no meu antigo quarto.

No meio de tanta especulação imobiliária lá consegui mudar-me para o meu novo quarto na sexta-feira...duas semanas depois da polícia ter estado cá em casa.

Não podia estar mais feliz.

A verdade é que às vezes a desgraça de uns é a felicidade dos outros. - Do lituano não faço ideia se ainda está ou não está preso, só sei que a tostadeira que ele deixou cá faz umas óptimas tostas em apenas 2 minutos!