segunda-feira, 17 de maio de 2010

Desta vez fiz de Meryl!

A pedido de muitas famílias, inclusive da minha, venho escrever mais um testemunho de uma incrível aventura passada aqui em terras de Loughborough.



Obviamente que esta foto não é do bolo em questão, mas sim da minha primeira experiência com esta receita - se tivesse tão requintado prato, certamente também teria uma batedeira...

Os ingleses têm o hábito de fazer inúmeros eventos para angariar dinheiro para caridade. Para além disso, em cada esquina há uma loja de caridade, que vende produtos em segunda-mão - o que é bastante bom para comprar livros e jogos de mesa.


Por isso, na semana passada, uma das "consultoras linguísticas" (tradução = vendedora de cursos de línguas) resolveu fazer uma venda de bolos no escritório, para angariar fundos para a pesquisa da cura para o cancro.


O objectivo era que as pessoas levassem bolos, e depois os comessem e pagassem por eles.


Eu queria fazer boa figura, e então lembrei-me da minha última especialidade, um pão-de-ló recheado com chantilly e morangos - ao mais belo estilo do Fruta Almeidas.


Procurei a receita na internet, de um pão-de-ló básico, e pensei, "o chantilly e os morangos não tem nada que saber".


Domingo à noite, desço até à cozinha para dar uma de pasteleiro...só que não sabia que ia ser uma pasteleira dos anos 30! Não sei se já viram o filme Julie and Julia? Pois, à quem diga que este blog tem receitas ao estilo da Julie...pois eu desta vez fui a própria Julia. E perguntam porquê?


Básico...eu é que não me lembrei antes...uma casa de estudantes, não tem, obviamente, uma batedeira.


E quem é que faz um pão-de-ló sem uma batedeira? Só alguém muito teimoso e persistente. Modéstia à parte, acho que me qualifico bem para o papel.


Comecei então o meu regresso ao passado. 8 ovos e 200 gr de açucar (felizmente havia uma pequena balança), bater muito bem. Pensei inúmeras vezes na minha Avó Gena em África a cozinhar...e pensei, se a minha Avó conseguia, eu também hei-de ter braço para isso - afinal, 8 anos de passes com uma bola de rugby haviam de valer alguma coisa.


E de facto, bater os 8 ovos com os 200 gr. de açucar nem me pareceu muito mal. Depois, a receita dizia, envolver a farinha (200 gr.) peneirada, "MAS SEM BATER, apenas envolver". Mas como eu saio ao meu pai, pensei para mim...no fimm isto tem é de estar tudo misturado, não vou cá ligar a mariquices. E toca de bater a farinha com os ovos e o açucar. Voilá...ficou com aspecto de massa de bolo.


Untei - esta palavra dá-me sempre vontade de rir...faz-me lembrar uma "bestunta", que segundo o meu pai é uma Besta Untada - a forma...infelizmente tinha-me enganado e comprado banha em vez de margarina...mas a diferença também não deve ser muita, pensei eu. E deitei 3/4s da massa na forma.


E forno com ela.


30/40 min...não deixar cozer muito, para ficar com o meio enqueijado. E a base do bolo estava feita. Faço mais outra metade da receita, para a "tampa" do bolo. 4 ovos, açucar, bate um bocadinho. Farinha, bate mais um bocadinho...unta a forma, e forno com ela.


Era então tempo de começar o chantilly. Ora bem, se a massa resultou, as natas não devem ter uma dificuldade muito maior. Pois que se engane quem pensa assim. Para mim, o chantilly só pode ser uma invenção recentíssima, aí dos anos 30 ou 40, ou mesmo 50!!!


Primeiro coloquei as natas - sim eram natas frescas, e estavam no frigorífico - numa taça, e então comecei a bater. A consistência começou a mudar e eu comecei a sentir-me poderosíssima! Só que não sabia que a mesma consistência iria durar por mais uma hora...Juntei o açúcar e continuei a bater. Braço direito, braço esquerdo, sentada, em pé, sentido do relógio, sentido inverso, no facebook...enfim mais de 1hora e nada!


Penso então em quem me poderia ajudar...hmmm! Bingo, a minha Avó Gena! Liguei-lhe, já íamos nas 23h30, e contei-lhe o meu desespero. Deu-me então uma dica que acabaria por salvar o meu dia! Pôr as natas no congelador, 20 min. Não mais para não virar gelado.


E assim foi, pus as natas no congelador e esperei. Quando as tirei parecia chantilly acabado de sair de uma batedeira da Kenwood!! Sem mais demoras recheei o bolo com chantilly e morangos partidos à metade. E de uma maneira pouco ortodoxa, coloquei a "tampa" por cima. E voltei a rechear...mas o resto do chantilly começava a voltar à sua forma inicial...ou seja, sem forma, liquido!


Decidi então que me tinha que ir deitar. No dia a seguir acordaria mais cedo e faria o resto. Pus o bolo no frigorífico - no espaço, na minha prateleira, que eu tinha arranjado de propósito para o bolo, que estáva agora ocupado por um tuppwear com verduras holandesas, grrrr, que gentilmente acabei por as colocar em cima da banca - e fui-me deitar.


No dia a seguir, natas de novo para o congelador. Esperei novamente 20 min, e voilá! Chantilly! Cobri o resto do bolo, morangos por cima, novamente cortados à metade.


E foi então que comecei a pensar como é que levaria o bolo até ao escritório...a brincar a brincar ainda são 5 min a pé!! Mas já era tarde, e então lá sai eu com o meu bolo desnudo, rua fora!


Com chantilly feito à mão, sem batedeira para mexer a massa, a verdade é que, e novamente modéstia à parte, o meu bolo foi um sucesso.


No fim, e tendo em conta que cada fatia de bolo na venda dos bolos era a 0,50£, e que no escritório somos apenas 25, ao fim de dois dias, conseguimos juntar 60£!!

Um comentário:

Sofia K. disse...

és uma artista!
devias fazer um blogue de receitas...

LOL